domingo, 31 de agosto de 2008

ACASALAMENTO *

se roçam
entrelaçam
permutam


fluidos
suores
odores

se acoplam
completam
se inteiram

gemidos
sussurros
se soltam

entes no cio
se entregam

sem pudores

se mexem
invertem
inventam

se querem
se comem
consomem

se deleitam
se aproveitam
compartilham

se embolam
se mesclam
se extasiam

exaustos
satisfeitos
adormecem...

sábado, 30 de agosto de 2008

CICATRIZES


temos cicatrizes
aprendizes
neste caminhar

quedas amadurecem
desafios fortalecem
alentos para lutar

caminhos e espinhos
escolhas vivências
experiências e dores

vamos nos construindo
pouco-a-pouco

estruturas e arrimos

caindo levantando
sorrindo chorando
aprendendo crescendo...

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

DOIDIVANAS IMAGINAÇÃO


desatenta indiferente
náufraga sem socorro
a mente viajante

flutua sobre a goiabeira
acima do meu quintal
parece que não percebe

a tarde que se finda
a hora do banho
momento de recolher

menino de calção
pés desnudos
camisa aberta

na gaiola vazia
gralha azul que fugiu
e pombal desabitado

matos ervas daninhas
junto às hortaliças
e quarador de roupas

ave arredia rebelde
insiste em vôos
piruetas arremessos

noite se avizinha
sem divagações

descanso calmaria...


domingo, 24 de agosto de 2008

MUNDO FANTÁSTICO ( Olimpíadas)


emocionou a festa
confraternizações nações
enlevos e comemorações

solos de povos irmãos
asiáticos negros brancos
todas as etnias reunidas

lágrimas de alegrias
bandeiras hasteadas
hinos entoados

por dias e momentos
congraçamento amor
mundo sem fronteiras

sonhos embalados
humanidade irmanada
diferenças resolvidas

como toda a aspiração
em todas as canções
a Paz estabelecida....







sábado, 23 de agosto de 2008

RUAS...


espaços em que vivemos
lembranças andanças
registros de nossos passos

do triciclo rondando a praça
amorosa vigilância materna
na pequena Echaporã natal

a Sergipe de terra batida
nos confins do Paraná, Mariluz
transversal da avenida principal

via longa exaustiva
palco de todas as cenas
sul prostíbulo norte a igreja

em Marília a Catanduva
férias escolares nos avós
gostosa sombra do abacateiro

dezembro temporada
mangas uvas nas parreiras
e os pés de jabuticabas

na rua que hoje habito rondas
mansões decadentes cortiços
cedem lugares a espigões de luxo...





quarta-feira, 20 de agosto de 2008

A VIAGEM NA VIAGEM *



na viagem entre árvores
cheiro terra vento na cara
na fm música orquestrada

raios solares brilho nas folhas
reluzentes gerando sombras
pássaros silvos e cantorias

a tarde inteira pela frente
íngremes caminhos solavancos
a aventura perto da metrópole

rescende floresta frescores
misto de matos e heras
narinas aguçadas aromas

já me esqueço da tarefa
que a empreitada me leva
sigo morros e estradas

emoção de parque infantil
deleites montanha russa
horizontes na roda gigante

contradigo-me rotinas se alteram
mente viajante plasma panoramas
e a imaginação pinta novas telas...














segunda-feira, 18 de agosto de 2008

PRESENÇA AUSENTE


enquanto o corpo jazia
inerte venerado velado
e lágrimas derramadas

cúmplices nas dores
luto e solidariedades
mágoas amenizadas

quanto tudo se consumou
despedidas condolências
rotina na segunda brava

e o fone taciturno não tilintou
tua voz monocórdia conhecida
nossas diferenças polemizadas

intuitivamente já te exclúi
o medo de ferir-me assusta
não te imaginava presente

tua presença na ausência
castiga e maltrata mais
aflição solitária amarga

o silêncio incomoda e reclama
indiferente mudo alheio além
conjecturas crenças filosofias

tudo apascenta amortece
ecos distantes lembranças
anelos suaves das saudades....

NO JORNAL..


são fatos narrados estampados
escritos falados televisionados
gente conhecida que morreu

dos preços que ameaçam subir
de temporais vendavais tufões
cenas violências e nascimentos

balbúrdia cotidiana em seções
para todos os gostos humores
no rádio tv e na folha dobrada

flagrantes e repentes denunciados
um incêndio de grandes proporções
assassinatos inusitados e singulares

a crônica policial e política
intrigas de personalidades
previsão do dia horóscopos

fotos mostram jogadas espetaculares
resultados do futebol e comentários
a vida acontecida horas antes e agora

e na indolência de meu caminhar
busco pães para o café da manhã
encurto passos sem pressa de chegar...


domingo, 17 de agosto de 2008

CRIAÇÃO...


eu cobaia de mim
percepções sentir
poros abertos

sons aromas sabores
engavetados ocultos
memórias arquivos

prazeres e desatinos
doces e amargos
paisagens passagens

esponja absorvente
mosaicos de detalhes
colchas de remendos

parte de mim absorve
outra atenta presente
juntas se mesclam

se a sensível alerta
desatenta a visível

divorciam entre si

mas reunidas
atenção e sintonia
traduzo em grafias...


sexta-feira, 15 de agosto de 2008

TRANSIÇÃO


rastros
restos
vestígios

células

tecidos
mudanças

encanecidos
cabelos
enfraquecidos

passos
lentos
idosos

fases
tempo
sinais

velhos
larvas
maduras

mariposas
casulos
rompidos

voos
plenos
infinitos...


quinta-feira, 14 de agosto de 2008

ECOS...*


em qualquer momento instantes
traz-nos lembranças recôndidas
ecos vagos no horizonte

nem sempre recordações lúcidas
mescladas em sensações difusas
contudo reprises vivenciados

pode ser no amanhecer lembrado
no ocaso do dia ou na faina diária
num olhar e num repente

na degustação de uma fruta
no aroma peculiar e íntimo
a mente alerta e desperta

sons trazidos subconscientes
baú de memórias guardadas
na leveza da alma se recorda ...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O OLFATO E AS SENSAÇÕES


passava para ir à escola toda manhã
nas narinas o cheiro gostoso do café
na brisa ainda fresca do dia iniciado

manga na cesta escolhida
sabores melosos curtidos
saudades de outras épocas

o pão quente na manteiga
o acalento no estômago
memórias de minha mãe

gabiroba no pé fuzuê
meninos em disputa
frutas caídas no chão

abacates gordurosos
sabores açucarados
massa verde apreciada

maçã grande vermelha
afagos para o doente
farsa para matar aula

jabuticabas no quintal
adornos nos galhos
pelotas pretas e doces

empoleirado na árvore
taturanas perigosas
suculentas goiabas

bananas e tangerinas
corríamos todos
o vendedor anunciava

havia a parreira lotada
dezembro temporada
uvas em cachos deleites

mais de cinco décadas passadas
no paladar as sensações trazidas
olfato sabores de coisas e carícias...


segunda-feira, 11 de agosto de 2008

DIA & NOITE *


amena serena aquecida
abraço suave merecido
enlaça acolhe reconforta

diurnas labutas corridas
suores rotinas guerreiros
alegrias desafios anseios

marés bravas tormentas
chuvas manhãs cinzentas
esperança dores conquistas

agendas dias sucessivos
vida em sequências lidas
sucessos vacilos temores

pausa ausência sossego
mansidão lassidão folga
trégua conforto acalento...




sábado, 9 de agosto de 2008

MENSAGEM ao AMIGO VIAJANTE





Toninho*,

a água molha esta manhã sofrida
exponho as lágrimas represadas
mágoas sufocadas no inevitável

dores soluços enalteço reprimindo
distância tão recente e já saudosa
suas palavras vivas relembradas

só um aviso seco lacônico e de morte
no meio da noite se libertou debandou
nos deixou pasmos e aterrados mudos

escorre na vidraça o respiro deste ar
embaça a visão e me deixa perplexo
apego à memória o retenho presente

antes que o tempo desvaneça e apague
da retina ofusque lembranças queridas
lamento a ida nesta data fria e chuvosa

embora convencido efêmera ausência
rompo o dique extravaso as tristezas

consolo nestes instantes tão íntimos

até o reencontro outras paragens
de muitas passagens testemunha
restam-me as saudades sinceras...


*Demiciano Antonio de Souza (18/4/59 -9/8/08 )




sexta-feira, 8 de agosto de 2008

RECOMEÇO


noite estranha
meu pai com uma arma
minha mãe com os filhos

rua principal frente ao sobrado alto
arruaceiros vassouras queimadas
provocantes festejavam a renúncia

fim dos sonhos partidários
Jânio Quadros debandava
falando em "forças ocultas"

impávido do alto do prédio
ostentando velha carabina
a postos fazendo-se notar

amargava a derrota
na eleição deputado
e derrocada do líder

balelas de lado a lado
velha geringonça não funcionava
bêbados pândegos manifestantes

um doido rompia a constituição
atirava o País na incerteza
e tomava rumo ignorado

baderneiros embriagados
espingarda enferrujada
encenação vã de resistência

pálidas recordações daqueles dias
Jango visitava a China vermelha
articulava-se o parlamentarismo

Mudança sobre o caminhão
amigos se despedindo
nova vida em outro Estado...

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

NADA É PARA SEMPRE...


vagas lembranças
pandemônio e iras
alunos casa ao lado

aprendizes acordeon
torturantes diuturnos
o velho e quatro filhos

artistas orgulhosos
crendo-se admirados

vizinhos angustiados

por muito tempo não ouvia
nada que se referisse àquilo
o excêntrico ficou marcado

cardápio caipira vetei
chuchús e abobrinhas
indigestas memórias

também repudiei o instrumento
de tantos acordes e sofrimento
aos meus tímpanos injuriados

anos passados contudo
pela boca fui vencido
os legumes anistiados

Surpreso vendo a tv certo dia
na poltrona da sala fascinado

sons na sanfona dedilhados...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O CRONISTA


seu faro arguto ágil
sensível detalhista
analisa sensibiliza

os fatos e os boatos
retrata a seu modo
deleites e minúcias

nada escapa
radar alerta
circunspecto

o latido de um cão
a menina na janela
o carteiro no portão

notícia no jornal
temas de esquinas
a breve discussão

a feira-livre montada

freguesia no comércio
nascimentos e óbitos

célere nas anotações

vistos com seu olhar
apaixonadas rotinas...

CONTO DE FADAS


figura abstrata
ideada imagem
conto de fadas

ilusão querida
chuva caida
dia a nascer

acalento em trovoadas
aconchegos e carícias
a paz no entardecer

refúgio e esconderijo
ânimos encarecidos
forças para seguir

pontes sobre rios
arrimo nas encostas
porto seguro no cais

magia difusa
ente carente
anseio sonhado ...

terça-feira, 5 de agosto de 2008

FRUTOS NO PÉ


irrequietas aves
animadas e doces
auroras verdores

criaturas singelas
sinceras e belas
filhotes nos ninhos

são anelos anseios
meninos meninas
afagados ninados

correm soltos livres
desconhecem o mal
risos felizes marotos

homens e mulheres
alvoradas floridas
frutos maturando

espontâneas alegres
travessas e avessas
hoje apenas crianças...

sábado, 2 de agosto de 2008

FEIRA- LIVRE


Barracas fartas frutas legumes
trânsito infernal de carrinhos
vendedores avulsos alho limão

o público especula preços e ofertas
apalpam frutas mordiscam saboreiam
azaléias, lírios, rosas enfeitam a florista

cheiro bom tenda dos pastéis
odores típicos na peixaria
mendigos esmolam trocados

bananas-maçãs nanicas e prata
mexericas abacaxis tangerinas
apelam divertidos os barraqueiros

a velha expõe seus temperos
medidas porções copinhos
ervas chás pimentas açafrão

ferreiro rápido conserta panelas
oferece quinquilharias miúdas
recondiciona ferramentas do lar

roupas no brejó improvisado
sapatos em bom estado
varais multicoloridos expostos

tem garotos oferecendo serviços
carretos e ajudas nas sacolas
uma cigana lê as mãos e cartas

feira livre rua em movimento
feirantes ambulantes festivos
alegres dias rotinas alteradas...

O HUMANO E O DIVINO


ao redor do esquive respeito
sussurros brandos lamentos
memorizam os feitos nobres

esquecidas nódoas perdoadas

benevolentes morto absolvido
de vícios veleidades peculiares

não se reconhecia o inerte em repouso
enaltecido endeuzado em meros atos
enobrecido nas atitudes corriqueiras

divinizava-se o féretro impassível
humano ser se desfigura canonizado
a despedida condoída releva os erros

mágica morte liberta
vida errante criticado
redimido volta à terra ...

ESTÁTUAS


Impávidas em paços públicos
inertes esquecidas enodoadas
jazem personagens históricas

pouso de pássaros
peitos condecorados
imagens vandalizadas

o que era para ser venerado
escritos obscenos tintados
nos bustos figuras honradas

chamados ruas avenidas pontes
de biografias estranhas alheias
na lida não há quem se detenha

um cientista, professor, artista
filósofo, político,um benemérito
referências apenas logradouros

o tempo implacável não perdoa
não há nome que sobreviva
na vida rotina que se escoa ...




MORTE *

Solitária imbatível tema
teses e questionamentos
berço eterno da filosofia

razões temores e cismas
religiões e escaramuças
musa tertúlias literárias

enigmática socialista
nivela sem classes
inexorável e fatídica

choros e tremores
fantasias horrores
indesejada certeira

porta única do fim
valentes medrosos
ricos e miseráveis

freio de rompantes
déspotas orgulhosos
diante ao inevitável

a humanidade pranteia
nas suas dores anseia
desvendar seus véus

no íntimo de cada ser
a angústia da dúvida
da existência além....



HERÓIS...


Comunistas anarquistas
Socialistas Democratas
utópicos e libertários

Seus ideais foram os meus
tantas ilusões e esperanças
os via como heróis tombados

espelhos modelos fria determinação
vidas imoladas sofridas lembradas
anseios valentes destemidos ousados

assassinados aprisionados deportados
torturados perseguidos machucados
exemplos de lutas e perseveranças

a vida o único patrimônio expunham
em favor daquilo que acreditaram
traídos vencidos amordaçados

contudo não foram as fibras domadas
antes as teses esposadas fracassadas
igualdade a quimera sonhada...


sexta-feira, 1 de agosto de 2008

SAMPA *


como vivente de seus sons
ruas, trânsito, neuras
cá estou e pouco me resta

do menino de cidades pacatas
aportando em suas entranhas
assustado com sua imensidão

aprendi que a solidão mais dura
é a suportada no meio da multidão
onde todos vivem juntos solitários

mas também confesso-me urbano
metropolitano essencialmente
bucólicas imagens só lembranças

tédio talvez pior que se sentir só
nas tardes modorrentas que vivi
todos caminhavam lentos atentos

e o tempo é mais crucial e fatal
ampulheta caindo grão a grão
a infâmia humana se ressalta

o passar pasmo de horas e dias
monotonia de vidas simplórias
terreno das insídias e boatos

onde todos se avizinham
mentes se amesquinham
e os assuntos são banais

prefiro seu ritmo insano
algaravia apelos ruídos
e anônimas identidades

dependente me assumo
viciado em sua vida babélica
frenesi de sua maluca rotina ...

FOLIAS DE MOMO


tempos houve em que via
a folia de salões alegrias
inocentes adultos-crianças

tudo parecia mágico
alecrim chorando a colombina
chacotas hilárias marchinhas

feéricos trens humanos
todos palhaços engraçados
o mundo festa e fantasias

no rodopio das voltas no salão
negros brancos ricos e pobres
no meio da amiga confusão

trocas de pares risadas
confetes serpentinas
batalhas amistosas

dança dos tímidos
inábeis e vexados
soltos na multidão

como se todos despidos
alheios aos preconceitos
unidos na confraternização

falso brilhante não importa
o que a imaginação sonhava
grata lembrança o que via...